O homem que nao se deslumbrava

Seguia pela rua pensando, como será o Egito, como será a China, como? Quando colocou os olhos nas nuvens, de outra perspectiva, daquelas que todo mundo imagina quando crianca, quando as olhou de cima, sentiu um gosto de novidade. Quando a neve comecou a cair, também. E até parou para pensar na novidade do primeiro beijo e todos os cliches pelos quais todos passam, afinal faz parte da natureza de todos, comer uma baratinha quando a mae nao está vendo e voce é crianca, cutucar o gato morto, rabiscar a parede, olhar a calcinha da menininha – porque será que ninguém olha a cuequinha?. Só que com o tempo, todas essas novidades parecem nao surtir o mesmo efeito. É como se cada dosagem da droga tivesse que ser aumentada, mais e mais, até um nível em que o colapso aconteca.

Já tinha visitado todos os museus famosos do mundo, as estátuas e monumentos exaltados pela humanidade. Já tinha experimentado de todas as comidas e sabores possíveis, chineses, mexicanos, japoneses, italianos. Esportes também nao havia mais. Nem livros, nem filmes, nem músicas. Parecia que todas as grandiosidades que sempre quis ver nada tinham de espantoso, de novo. Como se tudo já tivesse sido visto e revisto. E todos aqueles sorrisos daqueles que por lá estavam fossem sorrisos comuns daqueles que por sempre lá estavam, fossem esses ou outros.

Com esses pensamentos seguia e ali, quando atravessou a rua, percebeu uma pequena borboleta que, devido a um pouso mal feito ou algo que fugia da sua compreensao, estava presa na água preta e fétida à beira do esgoto. Percebia que ela se contorcia e relutava com suas perninhas entrelacadas no negro viscoso. Estático. Imóvel. Os olhos centrados naqueles movimentos de uma vida que está se esvaindo.

Nao percebeu que o semáforo estava aberto enquanto andava até a colorido enegrecido que se apagava.

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