Aquela do dia


Seguiam as duas pela rua, fumando ambas um cigarro, cada um o seu, obviamente, mas seguiam como quem nao tem prá onde ir, somente falando e conversando sobre as maravilhas do cotidiano relacionamento de cada uma delas. Aparece entao o personagem principal, remexendo-se, contorcendo-se, com aquela gosma branca de quem tinha acabado de ser feliz por algum motivo balancando de um lado para o outro, meio pegajosa ainda. Seguia ele balancando de um lado para o outro, enquanto as duas mulheres ainda nao o tinham percebido para fora. Mas o olhar humano é algo fantástico, nada passa despercebido, por mais que se queira, como se houvesse uma espécie de ima que puxa tudo aquilo que nao se deve ver no momento e que acaba por se tornar visível no exato momento em que nao o deveria ser.
Elas entao param de falar e comecam a direcionar o olhar para aquela coisinha que ainda balancando o corpo e pegajosa em um dos cantos, abre um sorriso. Esse bebe que segue no carrinho de sua mae, todo feliz, meio babao por ter bebido leite talvez, hipnotiza ambas. É verdade que qualquer ser adulto se torna infantil perto de nenéns e essas duas nao seriam diferentes em nada. Comecaram a fazer caretas e bilu-bilus de toda a espécie para manter aquele sorriso que tinha se manifestado. Esse é um espaco de tempo que jamais pode ser medido, a felicidade de um bebe, mas, mais ainda, o fato de duas adultas perderem-se por algo assim e esquecerem-se de tudo que há no mundo em troca de manter a alegria de uma criaturinha que nem sabe, talvez, ao certo porque ri.
Fato é que, por conta de nao perceberem nada ao redor, devido a esse embasbacante ser que ali estava, as mulheres nao se aperceberam da terceira que estava guiando o pequenino pelas ruas. Quando, finalmente o fazem, resolvem ser gentis e reproduzem o que de mais cliche existe numa situacao dessas, pois, mesmo que a crianca seja feia, horrível, daquelas que nao se sabe como diabos chegou ao mundo, e assim que voce ve, fica imaginando „meu deus como sao esses pais entao?!“, disseram, talvez para agradar, talvez somente pelo flagrante „Nossa! Que Lindinho!“. No que a mae, curta e rapidamente responde „Mas dói, tá!“

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