Verídico (Infelizmente)

Comecou como uma gota isolada, daquelas que surgem num telhado de um casebre no meio do gueto, onde por mais que se cubra e forre o telhado, encontra a água um modo de vencer a gravidade de um jeito a nao escorregar por fora, mas sim cair perpendicularmente, ou ainda, manter a sua forma natural de gota que cai ao chao. Assim gota por gota foi aumentando aquela dor até o momento inexistente atrás das costas. Virei-me de um lado, sem melhoras. Talvez o outro lado, mudanca alguma. Após tentar todas as posicoes corpóreas de ioga, resolvi usar a forca das pernas que comecavam a tremer para ir até o quarto vizinho, onde ainda adormecido repousava aquele que o hospedava.
O caminho a passos normais levava cerca de 5 segundos, entretanto nas atuais circunstancias, demorou mais do que o tempo que o leitor levou para ler cada palavra até aqui. Um segundo ponto era a hesitacao: era quatro da manha e incomodar a essa hora? Mas dane-se! Espetava a dor que já se tornava uma poca d'água bem grande. Duas batidas. Sem resposta. Mais duas. Ouve-se um "hein?!" no meio do quarto escuro.
"Estou com dores nos rins!"
"Hein?!" - Juro que esse segundo já me irritou bastante.
Ainda pensei em mudar a ordem das palavras para ver se a mensagem ficaria mais clara, afinal, eu poderia ter causado alguma interferência no entendimento com algum gemido. Mas optei pela repeticao num tom mais alto e condizente com a dor que estava sentindo.
"ESTOU COM DORES NOS RINS!!!"
Pelo meu grito, nem o vizinho perguntaria tal coisa, mas...
"É tao ruim assim?"
5 segundos calado para contar até 3.978.673.972 e nao falar o que pensava. Soltei um "é". E entao como piada que em ocasioes como funeral nao se conta, surge a máxima.
"Quer que eu leve você para hospital?".
12.5 segundos que vou dividir com vocês.
"Claro que nao! Eu nao tenho habilitacao! Na verdade, eu só queria avisar nesse momento mágico da minha vida que nao estarei aqui para o café da manha, pois irei a pé para o hospital que fica a 45 quilômetros daqui".
A essa altura a cachoeira já era cascata e ricocheteava nas pedras por onde passava causando calafrios terríveis.
Resolvi entao por em prática um pensamento que nao sei porque diabos surgiu naquele momento. Dizem (o pensamento disse) que se você está com dor, deve-se direcioná-la para outro local do corpo, assim nao se sente a primeira. Bom, como nao havia mais nada perto, chutei a quina do batente da porta. Passou? Acabando com esse mito! NAO! E ainda ganhei um dedo do pé quebrado.
Mancando estava quando o nao tao compreensivo motorista dizia estar pronto "Vamos?", "Entao vamos!".
Chegando ao hospital, no guichê de registro, embora minha expressao nao fosse das melhores, veio a atendente com catorze formulários que deveriam ser preenchidos ANTES que eu adentrasse ao hospital. Só eu li catorze, nao?
Fazendo uma cara de quem nao sabia escrever, pedi que visse o médico primeiro e depois fizesse o servico com os papéis. Ela, com uma cara feliz como quem pensa "Isso, meu trabalho é esse, tenho que executá-lo sem excecoes!" disse que sim, mas que eu teria que voltar assim que possível, pois os papéis eram importantes. Ah! Claro... minha dor nao.
Na maca, contorcendo-me de dor, ainda sem medicacao, veio a enfermeira... "De onde o senhor é?", "Brasil" (com muita dor, rangendo os dentes, suando frio, tremendo e batendo os dentes), "Ahhh! Nossa... mas deve estar um tempo ótimo lá, nao é? O senhor conhece Salvador?"

Nesse momento eu paro o texto e inicio a contagem que vai ficar aqui para nao traduzir tudo o que queria dizer no momento, mas que educadamente nao disse...

1...
2...
3...
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Comentários

  1. Ai meu dedo!!! Ops... o seu hauhauha

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  2. caralho...consegui sentir a dor, na boa...não pensei q era tão ruim assim...
    queria estar com vc...beijo, se cuida..

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  3. hahahaha coitado de voce rh
    ta melhor agora ta?

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