Linha tênue

Estranho como o senso de certo e errado, bom, mal ou como queiram chamar os que isso agora leem, demora-se a despontar no ser humano.
Lá estava ela, vestido rosado, cabelos encaracolados e perfumados, com seus lacos e fitas. Havia uns quinze minutos que sua mae a deixara de lado para ir dar um pouco de atencao aos convidados da noite. Ela, com seu vestidinho, procurando o que fazer no jardim. Caminhando de uma direcao à outra, sem muita criatividade e muitos pensamentos direcionados a atividade nenhuma, pega um graveto longo que encontra no meio do caminho.
Próxima à casinha onde ficavam os utensílios destinados à jardinagem, encontra o pequeno cao adormecido. Encantadora criatura. Meio que dancante abre um leve sorriso de canto de boca como quem acaba de descobrir algo novo ou uma curiosidade que em certo momento da vida comeca a colocar seus leves olhinhos brilhantes para fora do escuro de si mesma.
Segue calmamente até o cachorro, passinhos curtos, varinha em punho. Levanta a mao o mais alto que seus rolicos bracinhos permitem, a vara logicamente, a uma altura superior. Uma última olhada para o interior reluzente da casa, afinal surge um sentimento de hesitacao breve. Como nenhuma atencao fora direcionada à sua atitude, volta-se novamente para o cao. E, descendo a mao o mais rápido que pode, estala a vara no traseiro do cachorro e sai correndo aos trôpegos tropecos pelo gramado. O cao nao reage. Ela nao entende o porque. Retornando até o cachorro, percebe que seus olhos estao abertos. Levanta a vara novamente como quem diz a si mesma, "Ah! Agora voce nao quer acordar?", pega a ponta da vara, levanta e enfia no olho do cachorro o mais fundo que consegue, ao mesmo tempo que diz, "Agora nao vai acordar mais!".

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas